TAISY + ALESSANDRO = RAFAELA

Guia Infantil

domingo, 11 de julho de 2010

PALADAR DA CRIANÇA





Como é o desenvolvimento do paladar da criança

Você adora beringela. Seu filho não pode nem sentir o cheiro. Um irmão é louco por salada, o outro prefere churrasco. Descubra por que muitas crianças não gostam de verduras enquanto outras são capazes de rejeitar um chocolate


Jeanne Callegari


1 - Quando o paladar começa a se desenvolver?
Só depois do nascimento. No útero, por volta do quinto mês de gestação, o bebê até começa a desenvolver alguns sentidos e consegue sentir cheiros e enxergar. Quando ele nasce, sente gostos, mas não de forma muito desenvolvida, o que vai acontecendo com o tempo. Por volta dos 2 ou 3 anos de idade é que as preferências e rejeições começam a aparecer com mais nitidez.

2 - O que é natural nos bebês e o que eles aprendem com o tempo?
Existem quatro sabores, e eles são inatos: doce, salgado, amargo e ácido. Pesquisas demonstram que bebês têm preferência pelo doce. Sorriem quando recebem açúcar e fazem caretas quando provam o amargo. Também há diferenças individuais que podem estar associadas ao grau de sensibilidade que cada um tem aos sabores. Mas o paladar não é formado só assim: odores, texturas e o prazer que a comida proporciona fazem diferença. Além da percepção geneticamente determinada, algumas dimensões, como a familiar e a cultural, orientam as preferências. A criança nasce com uma certa predisposição para gostar de uma comida e fazer cara feia para outras, mas a educação que recebe também vai influenciar.

3 - Qual o papel dos pais?
Como parte da formação do paladar vem do aprendizado, os pais têm papel fundamental. Ninguém oferece a uma criança um alimento de que não goste. Se, desde pequenos, os filhos têm uma alimentação saudável, com pouca gordura, pouco sal, que privilegia produtos naturais, eles vão crescer aprendendo a apreciar aqueles pratos. Vão rejeitar o refrigerante nas festinhas e as frituras na escola, porque, para eles, gostosos serão os sucos, as saladas, as frutas. Não adianta, porém, querer que o filho coma manga se a mãe não gosta da fruta: a criança aprende mais observando o comportamento dos pais do que ouvindo o que eles falam.

4 - Todas as pessoas sentem os gostos do mesmo jeito?
Não. Nenhuma pessoa sente gostos e cheiros da mesma forma que outra. Algumas podem ter percepção mais apurada e se tornar, por exemplo, grandes conhecedores de vinho, reparando em detalhes que passam despercebidos para a maioria. Outras podem ser boas para perceber aromas. Além disso, o paladar muda conforme a idade: crianças tendem a gostar mais dos sabores chocolate e morango, ao passo que idosos preferem baunilha. É normal que, na adolescência, a pessoa comece a apreciar alimentos de que não gostava quando era pequena.

5 - Como lidar com a recusa dos filhos em comer verdes ou em experimentar alimentos novos?
Uma boa dica é a familiarização. As crianças aceitam melhor um alimento que ajudaram a preparar, lavaram, picaram, arrumaram no prato. Se o contexto for positivo, seu filho vai olhar a comida com uma atitude mais favorável. Por exemplo, não tente introduzir no mesmo dia todos os vegetais amargos. Sirva-os um de cada vez, sempre acompanhados de um dos pratos preferidos dele. Ofereça as frutas picadinhas ou em palitos. Dizer para a criança comer porque faz bem para a saúde ou propor recompensas não funciona. É melhor educá-la para sentir prazer e apreciar o gosto dos alimentos.

6 - Qual o papel do prazer na nutrição?
O prazer é essencial para a alimentação. O prato tem de ser nutritivo, mas também tem de ser gostoso. Por isso, não funcionam bem as técnicas de pressão de alguns pais para que as crianças comam verduras, do tipo: "Se não comer a salada, não ganha sobremesa". A idéia de que depois da tortura vem a recompensa só piora a noção de que vegetais e legumes são ruins. Se as crianças percebem os pais comendo abóbora com satisfação, vão associar o prazer àquele alimento, e assim fica mais fácil gostar dele.

7 - Por que algumas crianças odeiam verduras?
Não são todas, mas muitas crianças rejeitam os verdes. Existem algumas teorias, mas nenhuma conclusão, para explicar o fenômeno. A primeira é de que, quando nascem, os bebês seguiriam o instinto básico de comer para aplacar a fome. Pensando assim, massas e doces satisfazem mais rápido que um prato cheio de verduras. Outra linha de pensamento é de que verduras têm gosto forte, às vezes amargo, o que desagrada ao paladar infantil. Uma terceira hipótese diz que, como no passado os seres humanos sabiam que os vegetais podiam servenenosos, ainda olhamos para eles com desconfiança.

8 - Por que algumas crianças se recusam a experimentar alimentos que não conhecem?
Esse fenômeno tem um nome: é a neofobia alimentar. Na natureza é um fato banal, necessário para a sobrevivência, pois não se sabe se o alimento novo é seguro para a saúde. Entre os 2 e os 10 anos, e principalmente entre os 4 e os 7 anos, 77% das crianças se recusam a comer o que não conhecem. Uma explicação possível é que, nessa idade, os pequenos estão na fase do "não", e uma das poucas maneiras que têm para se auto-afirmar é à mesa. Como também, nessa fase, eles começam a freqüentar a escola e aprender muitas coisas novas, os alimentos conhecidos representam uma espécie de porto seguro, algo familiar com que podem contar. As pesquisas não explicam por que algumas crianças são mais neófobas que outras.

9 - É necessário introduzir doces e gorduras na dieta das crianças?
Doces, gorduras e massas são os preferidos das crianças, e proibir esses alimentos seria privá-las de grande parte do prazer da alimentação, o que seria considerado um crime entre povos apreciadores da gastronomia, como os franceses. O ideal é usar o bom senso e compensar a ingestão das guloseimas com muita fruta, verdura, legume, e transformá-los também em alimentos prazerosos para os pequenos.

10 - A criança sabe naturalmente o que é bom para ela?
Não. Se a decisão for deixada para a criança, ela vai escolher os alimentos de que gosta mais: frituras, doces, macarrão. A responsabilidade sobre a alimentação dos pequenos é dos pais. São eles que devem decidir o que vai ser servido à mesa todos os dias e o que só entra de vez em quando.


FONTE: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI2290-10591,00.html



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